Segundo suas origens, os gladiadores eram armados diversamente: isso dava a cada luta um ar de suspense, de mistério, fazendo com que os antigos romanos apostassem dinheiro nesses combates, assim como faziam nas corridas de cavalos nos circos.
Mas não eram tanto as apostas que atraíam o público ao anfiteatro, mas, sim, o gosto pela batalha, pela luta real, à qual podiam assistir sentindo todas as emoções possíveis e imaginárias.
Quem eram os gladiadores no Império Romano?
Os munera, na Roma Imperial, eram organizados pelo Estado por meio de funcionários que haviam tomado o lugar dos lanistae.
Estes, em outros tempos (mas ainda nas cidades de província), eram os proprietários de escolas de treinamento (ludi gladiatorum) e, praticamente, donos dos gladiadores, os quais tinham sido comprados como escravos ou, sendo homens livres, tinham se vendido, cedendo assim, com um juramento terrível, o próprio corpo, a própria vida, os próprios direitos.
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Os gladiadores de Roma
Os gladiadores de Roma – um pequeno exército de corajosos, ao qual os imperadores não exitaram a recorrer para ajudá-los nos momentos difíceis – eram, em grade parte, recrutados entre os prisioneiros de guerra, criminosos condenados à morte e jovens que pertenciam a famílias pobres.
Esses jovens eram atraídos pelo sonho da vida em quartel, sem problemas, sem responsabilidade e, sobretudo, pela ilusão de serem sortudos e reconhecidos para conquistar fama e riqueza em um breve período de tempo, sem serem obrigados a condenar a própria existência à procura de um trabalho normal.
Ludus magnus e Ludus matutinus
Nas duas casernas de Via Labicana, a Ludus magnus e a Ludus matutinus, os recrutas iniciavam um treinamento gradual sob a supervisão e a guia dos gladiadores anciãos, de valor comprovado: treinavam geralmente contra um boneco plantado na terra (palus), aumentando aos poucos os obstáculos até chegar ao primus palus, que indicava a última fase do treinamento: o gladiador era, então, pronto para ir à arena.
Na véspera da luta, um grande banquete (cena libera) reunia os gladiadores, ao qual qualquer um podia assistir. Os estranhos circulavam livremente entre os lutadores, analisando com olho técnico suas condições físicas para estabelecer em qual campeão apostar.
Os combates nos anfiteatros
No dia seguinte, desarmados, entravam em parada no anfiteatro e, atravessada a arena, paravam para homenagear o príncipe.
Depois, uma vez realizado o exame (probatio) e a distribuição das armas, os combates podiam iniciar.
Segundo suas armas e vestimentas, os gladiadores combatiam em modos diferentes.
O gladiador reciário
O reciário, vestido levemente com uma túnica curta ou uma tanga e um cinturão largo protetivo, não tinha outra arma para atacar: somente uma rede (iaculum) e um tridente (fuxina), enquanto para se defender usava um bracelete de couro e metal que terminava com uma proteção metálica (galerus) acima do ombro esquerdo.
O reciário combatia fugindo do adversário, esperando o momento oportuno para lhe arremassar a rede e, se conseguia, atingia-o com o tridente ou um punhal curto.
O gladiador mirmilão
Geralmente, o adversário do reciário era o mirmilão (mirmillone), assim chamado em virtude do peixe (murma), do qual levava a efígie no elmo: o duelo, nesse caso, representava a luta de um pescador (a fuxina era próprio o arpão usado nas almadravas) contra um peixe.
Os samnitas, trácios, essedários, dimaqueros
Os outros gladiadores eram:
- Os samnitas, armados com espada (spatha) e escudo (scutum);
- Os trácios, que combatiam com uma espécie de cimitarra (sica), defendendo-se com um pequeno escudo redondo (parma);
- Os essedários, que lutavam em carros de guerra britânicos (esseda) e eram lançados de carrosséis vertiginoso na arena;
- Os dimaqueros, que tinham duas espadas.
Os duelos objetivavam mostrar mais ao povo romano o modo de combate e as armas daqueles que foram seus inimigos, mas, ao mesmo tempo, os organizadores dos espetáculos tinham total liberdade para dar mais fantasia aos jogos e torná-los mais interessantes.
O prêmio do gladiador
O prêmio era levado pra arena em bandejas de prata e podia ser, além da palma, joias preciosas, moedas ou até mesmo rudis (espada de madeira), símbolo da sua liberdade: a partir daquele momento, como homem livre, o gladiador podia viver de renda.
Durante os jogos públicos (ludi), eram executadas as penas capitais, que eram também verdadeiros espetáculos.
Por algum um tipo de pudor, ou, talvez, porque as execuções em si tinham bem pouco de prestigioso, essas eram feitas ao amanhecer, quando o anfiteatro ainda estava vazio, ou ao meio-dia, quando os espectadores saíam pra almoçar.
As penas capitais
De manhã, eram executadas as sentenças daqueles que os juízes tinham condenado ad bestias.
O tremendo suplício fora inventado por Augusto quando ele abandonara às panteras e aos leopardos esfomeados o bandido Séleuro.
Os criminosos condenados ad bestias eram empurrados pra arena, sozinhos ou em grupo, e sobre eles, inermes, eram lançados ursos, touros, leões e tigres.
Ao meio-dia, iam pra arena os gladiadores meridiani: assassinos, ladrões, incendiários, que tinham sido condenados à morte no anfiteatro.
A primeira dupla era composta por um homem desarmado e um armado. Este, após matar o adversário, era desprovido de sua arma e oposto a um outro armado.
Com a decadência do império romano e o triunfo do cristianismo, que atribuiu a todos os homens, de qualquer condição, uma dignidade até então desconhecida ou contestada, os munera gladiatorum e as penas ad bestias foram abolidos, mas isso só aconteceu no V século da nossa era.
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*Referência bibliográfica: Livro “Tutto su Roma Antica”. Texto de Aldo Neppi Modona. Ed. Bemporad Marzocco, Florença, 1963 (tradução livre minha para este post).