O burgo de Castel Gandolfo, um dos mais bonitos da Itália, é um pequeno Vaticano fora de Roma com a residência de verão do pontífice, sendo que o Papa Francisco nunca passou suas férias de agosto neste palácio papal.
Assim, para incrementar o turismo no burgo afetado justamente pela ausência de Sua Santidade, Papa Francisco decidiu abrir o próprio palácio para visitas guiadas.
Como visitar a residência papal de Castel Gandolfo
Desde 12 de setembro de 2015, as Vilas Pontifícias de Castel Gandolfo podem ser visitadas pelo público.
Depois da abertura dos Jardins Barberini, em 2014, o Vaticano passou a oferecer um percurso turístico que pode ser feito seja com audioguia, tour de trenzinho saindo da estação ferroviária do Vaticano ou uma visita ao Antiquarium.
A grande novidade é a entrada, antes nunca permitida, no Palácio Apostólico para visitar o novo espaço museológico: a Galeria dos Pontífices.
O destaque dessa nova proposta turística é, certamente, a ativação da antiga linha ferroviária Vaticano – Castel Gandolfo – Albano Laziale para uma pequena viagem que sai da estação do menor país do mundo.
Algumas cenas históricas de Castelgandolfo
Quem entra pela primeira vez nas Vilas Pontifícias certamente não pode imaginar que ali, em um passado longínquo, existiu uma das vilas mais famosas da antiguidade, a Albanum Domitiani, majestosa residência de campo do imperador romano Domiciano (81 – 96 d.C.), a qual ocupava cerca de 14 quilômetros quadrados desde a Via Appia até chegar ao Lago Albano.
As Vilas Pontifícias se estendem sobre os restos da parte central da residência desse imperador, a qual incluía também, segundo a hipótese de alguns estudiosos, a Arx Albana, situada na extremidade da colina de Castel Gandolfo, onde hoje surge o Palácio Pontifício e que no passado abrigava o centro da Antiga Albalonga.
A vila de Domiciano era situada no lado ocidental da colina, em uma posição dominante sobre o Mar Tirreno.
Na parte mais alta, ficavam as casas dos servos imperiais, as várias dependências de serviço e as cisternas, estas alimentadas pela nascente de Palazzolo através de três aquedutos, em parte até hoje existentes, os quais fornecem água para a vila papal e o burgo de Castel Gandolfo.
Na área central, surgiam o palácio imperial e o teatro. Na área inferior, o criptopórtico, o grande passeio coberto do imperador, com cerca de 300 metros de comprimento nas suas origens.
Outras partes da vila imperial eram divididas em vários terraços, muitas destinadas aos jardins e uma ao hipódromo.
Residência para o Imperador Domiciano
Essa residência, estruturada também para o inverno, serviu praticamente como residência fixa para o Imperador Domiciano, sendo repleta de belezas naturais e de edifícios luxuosos, monumentos e obras de arte.
Com a morte de Domiciano, a vila passou para seus sucessores, os quais preferiram se estabelecer fora de Castel Gandolfo.
Adriano (117-138) ali transcorreu um breve período enquanto a sua vila, em Tivoli, era terminada, e Marco Aurélio (161-180) nela se refugiou por alguns dias durante a rebelião do ano 175.
Alguns anos depois, Settimio Severo (193-211) transferiu para a vila, na parte mais ao sul, os castra dos seus legionários párticos fiéis, os quais ali acamparam estavelmente com suas famílias.
Pártico
adj (gr Párthos+ico2) Relativo aos partos, antigo povo asiático.
sm ant Sobrenome que os romanos davam aos vencedores dos partos: Trajano, o Pártico.
Dicionário Michaelis
Decadência da vila imperial
Assim, iniciava a decadência da vila imperial, cujos monumentos, já destituídos de suas obras de arte e de ornamentos preciosos, foram demolidos para que seu mármore e tijolos fossem empregados na construção das novas casas que deram origem ao núcleo habitacional da cidadezinha de Albano.
Uma outra fixação, principalmente de agricultores, estabeleceu-se no norte da vila sobre a área do lago em direção a “Cucuruttus” (atual Montecucco) criando, desse modo, Castel Gandolfo.
O imperador Constantino (306-337), que tinha afastado do território os turbulentos legionários párticos e suas famílias, incluiu a possessio Tiberii Caesaris, isto é, a área da Vila Domiciana, entre os benefícios conferidos à Basílica de São João Batista, a atual Catedral de Albano.
Castelo da família Gandolfi
À parte alguns documentos referentes a esse território, a história sobre ele se cala até o século XII, mas a espoliação de mármore e de obras de arte continua por muito tempo.
No século XIV, o saque prossegue sistematicamente para se obter mármore para a construção da Catedral de Orvieto, região Úmbria.
Por volta de 1200, sobre a colina foi construído, talvez em cima das ruínas da Antiga Albalonga, o castelo da família genovesa dos Gandolfi, da qual Castel Gandolfo herda o nome.
Era uma fortaleza quadrada no alto da colina com muros elevados e um pequeno pátio ainda existente, circundada por um poderoso bastião.
Após alguns anos passou para as mãos da família Savelli que foram seus proprietários por séculos.
Patrimônio inalienával da Santa Sede
Em julho de 1596, sob o pontificado de Clemente VIII Aldobrandini (l592-1605), a Câmara Apostólica se apoderou de Castel Gandolfo e de Rocca Priora com a bula conhecida como Congregazione dei Baroni, tirando-os da família Savelli que tinha se recusado a pagar uma dívida de 150.000 scudi.
Mais tarde, parte da dívida foi paga e Rocca Priora voltou a ser de propriedade dos Savelli, enquanto Castel Gandolfo foi declarado patrimônio inalienável da Santa Sede e incorporado definitivamente, com um decreto consistorial de 27 de maio de 1604, pelo domínio temporal da Igreja.
Paulo V Borghese (1605-1621 ), sob pedido da comunidade de Castel Gandolfo, deu à cidadezinha e à fortaleza água em abundância, mandando restaurar o aqueduto que levava água da nascente de Malafitto, atual Palazzolo.
Jardim do Moro
Desde quando era cardinal, Urbano VIII Barberini (1623-1644) já amava ficar em Castel Gandolfo, sendo o primeiro papa a veranear nessa residência na primavera de 1626, uma vez terminados os trabalhos de reforço e ampliação do palácio.
Incorporada à fortaleza, foi construída a ala do palácio em direção ao lago e a parte esquerda da atual fachada até o portão de entrada.
Foi também realizado o jardim do palácio (Jardim do Moro), de pequena proporção, até hoje fiel ao desenho originário, com algumas vielas que o cortam em formas regulares.
A capela privada foi decorada com afrescos pelo florentino Simone Lagi, assim como o oratório contíguo e a sacristia.
Ainda sob solicitação do Papa Urbano VIII foram realizadas duas estradas arborizadas, chamadas de “Galleria di sopra” (Galeria de cima) e “Galleria di sotto” (Galeria debaixo) que costeiam Villa Barberini e ligam Castel Gandolfo com Albano.
Desenhos de Gian Lorenzo Bernini
Alessandro VII Chigi (1655-1667) completou a construção do Palácio Pontifício com a nova fachada que dá para a praça e a ala para o mar, além da grande galeria construída com desenho e assistência de Bernini.
Em 1870, com o fim do Estado Pontifício, iniciou um período de abandono para a residência papal de Castel Gandolfo, o qual durou cerca de sessenta anos.
Apesar de a Lei de Garantias assegurar ao Palácio de Castel Gandolfo “com todas as suas atinências e pertinências” a mesma imunidade do Vaticano e do Laterano, depois da tomada de Roma os papas não saíram mais do Vaticano.
A Questão Romana
Somente após os pactos lateranenses entre a Santa Sé e a Itália em 1929, que colocava fim à delicada “Questão Romana”, Castel Gandolfo voltou a ser a residência de verão dos papas.
As Vilas Pontifícias passaram a ter as atuais dimensões com a compra do complexo de Villa Barbernini, onde foram realizados jardins com um novo desenho, dentre os quais merece um destaque aquele do Belvedere.
Depois de 1929, foram realizados importantes trabalhos de reforço e reestruturação do Palácio Pontifício para adaptá-lo às novas exigências e para efetuar as ligações entre as três vilas: Jardim do Moro, Villa Cybo e Villa Barberini.
Em 1934, o Observatório Astronômico dos Padres Jesuítas foi transferido do Vaticano para o Palácio de Castel Gandolfo.
Hebreus salvos em Castel Gandolfo durante o nazismo
Durante a ocupação nazista de Roma, Papa Pio XII deu ordens secretas ao clero italiano para “salvar vidas humanas de qualquer maneira” e, assim, teve um papel fundamental na salvação de milhares de hebreus italianos da deportação para Auschwitz e outros campos de extermínio nazistas.
Em outubro de 1943, Papa Pio XII fez um apelo a igrejas e conventos de toda a Itália para que dessem abrigo aos hebreus.
Apesar de Mussolini e os fascistas serem fiéis a Hitler e terem deportado hebreus italianos, os católicos desafiaram a ordem do ditador e deram proteção a milhares de hebreus em igrejas, mosteiros, conventos e casas privadas em toda a Itália até a chegada dos exércitos aliados.
5.000 hebreus salvos dos nazistas
Embora suas vidas estivessem em perigo por estarem protegendo hebreus, os chefes da Igreja Católica Italiana esconderam milhares deles dos nazistas.
Em Roma, entre 155 conventos e mosteiros deram refúgio a cerca de 5.000 hebreus durante a ocupação nazista.
Não menos que 3.000 deles foram escondidos contemporaneamente na residência de verão do papa em Castel Gandolfo.
Assim, graças à atitude pessoal de Papa Pio XII, muitos hebreus escaparam da deportação para os campos de extermínio nazistas e conseguiram sobreviver.
Como ir de Roma para Castel Gandolfo
Trem
Pegue o trem regional que sai da Estação Roma Termini para Castel Gandolfo. A viagem dura quarenta e cinco minutos.
Da estação para o burgo será necessário fazer uma caminhada em subida. São cerca de quinze minutos a pé. A vista vale o esforço.
Carro
Castel Gandolfo está a 24,5 km de Roma. Aproveite e alugue seu carro com nosso parceiro RentalCars pelos melhores preços e sem acréscimo.
Castelgandolfo, refúgio dos papas nas férias de verão
Tours privados em português com guia brasileira em Roma e Vaticano
* Referências bibliográficas (tradução livre minha):
- Discurso do Rabino David Dalin durante a apresentação do livro “Papa Pio XII: il Papa degli Ebrei” de Andrea Tornielli no Meeting de Rimini.
- Site do Estado do Vaticano.
- Site dos Museus Vaticanos.
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6 comments
Gostaria de fazer esse passeio… museus vaticano jardins e viagem de trem para o castelo gandolfo…como faço ?
Olá, Dilson,
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Saudações,
Maria