Viajamos e sempre foi assim por quatro motivos que podemos elencar, numa ordem praticamente cronológica, já que se manifestaram um após o outro com a evolução da civilização:
- para estreitar relações comercias com pessoas e países mais ou menos longe;
- para agir politicamente e militarmente além do próprio país ou para fazer propaganda de doutrinas religiosas ou políticas;
- para enriquecer os conhecimentos científicos e para explorar as terras desconhecidas ou pouco conhecidas;
- e, por fim, como passatempo, isto é, turismo.
Contato de guia brasileira na Itália
As dificuldades de viajar pros antigos romanos
É claro que aos antigos romanos não lhes podia vir em mente viajar “por turismo”, e quanto às viagens de exploração científica, conhecemos várias realizadas por cientistas e navegadores gregos, mas pouquíssimas realizadas por romanos.
Mansio, no plural mansiones, era, na Roma Antiga, um edifício, mansão ou pousada, situado ao longo das vias romanas, destinado a albergar funcionários do Estado em viagem.
Fonte: Wikipédia.
Restam as viagens impostas por exigências comerciais, políticas e militares, que se tornaram, necessariamente, sempre mais frequentes e mais longas à medida que a política expansionística da República Romana foi se conectando – economicamente, politicamente, militarmente – com todos os países do Mar Mediterrâneo.
Chegou-se ao ponto que quem tivesse algum cargo público, especialmente a partir da época de Augusto em diante, devia esperar para ser mandado pra longe de Roma e da Itália, enfrentando qualquer tipo de perigo e ameaça aqui e acolá.
O próprio serviço militar era prestado quase exclusivamente fora da Itália, nas províncias do imenso império, em regiões geralmente bárbaras e inabitáveis.
A necessidade de locomover tanta gente – funcionários, diplomatas, militares, exércitos inteiros – em áreas sempre mais longínquas, induziu os governantes romanos a construir uma grandiosa rede de estradas (viae) que, excluídas as artérias rudimentares de comunicação traçadas pelos monges persianos em algumas partes de seus vastos domínios, não tem nenhum outro exemplo no mundo antigo.
As grandes estradas romanas
A primeira das grandes estradas foi, três séculos antes de Cristo, a Ápia (Appia).
Construída por iniciativa de Ápio Cláudio Cego, censor, esta estrada uniu Roma a Capua segundo um itinerário racional e, em seguida, foi prolongada até Brindisi, extrema borda da Itália no Mar Adriático, passando por Benevento e Taranto.
Foram construídas outras estradas nos séculos sucessivos, as quais ligaram primeiro os lugares próximos a Roma, como:
- Via Clódia, que ligava Roma ao interior da Etrúria;
- Via Cássia que, através da Etrúria, levava à Via Emília;
- Via Aurélia, que chegava até a Ligúria;
- Via Postumia que, começando em Gênova e passando pelos vales padanos e o Vêneto, chegava a Aquiléia;
- Via Flamínia, que chegava até Rimini;
- Via Salaria, uma antiga estrada do sol (como a Ostienese, que chegava a Ostia) e ligava Roma ao Adriático;
- Via Aemilia que, através da planície padana, de Rimini chegava a Piacenza;
- Via Latina que, no interior da península, subia os Apeninos e chegava à Campânia;
- Via Valeia, que prolongava a Tiburtina de Tivoli até Corfinio;
- Via Popilia, que, destacando-se da Ápia, chegava até Reggio di Calabria, passando através da Lucânia.
As antigas estradas romanas nas províncias conquistadas
Depois, as novas estradas foram construídas nas províncias conquistadas, como:
- a Egnácia, na península Balcânia;
- o prolongamento da Via Aurélia, na Gália, que desde Provença, da qual seguia pela costa, chegava até Lion e continuava pelo vale do Rodano;
- e tantas outras que se entrelaçavam em direção aos confins do Reno.
As estradas, cuja largura máxima atingia uns cinco metros, eram pavimentadas com cascalho (glarcatae) ou eram, como a Via Ápia, de paralelepípedo (stratae).
Como eram as viagens na Roma Antiga
Os antigos romanos que viajavam encontravam as estradas desertas, ladeadas de terras ainda selvagens. Os modestos mercantes que levavam toda a sua mercadoria sobre o dorso de alguma mula preferiam negociar com algum comboio mais importante, escoltado por uma patrulha de servos armados.
Não era difícil, em certas regiões pouco povoadas, encontrar algum bando de ladrões dispostos a tudo, então era prudente viajar em grandes comitivas e ter a mão pronta para levantar a curta adaga, a qual constituía um dos acessórios mais úteis no equipamento dos viajantes.
Os funcionários e os magistrados, quando viajavam por conta do Estado, eram sempre acompanhados de uma boa escolta fornecida pelas autoridades dos centros que atravessavam.
Havia quem ia a pé, em aventurosas etapas longas, e havia quem, além dos cavalos e das mulas, podia usar carros e carretas de vários tipos segundo as distâncias que tinha de percorrer e do dinheiro que tinha à disposição.
As viagens dos antigos romanos: tipos de carros
Especialmente nas estações mais rígidas e nas viagens longas em direção à Gália transalpina, à Espanha e à Panônia, durante as quais deviam superar difíceis vales quase sempre flagelados pelas intempéries, os viajantes mais ricos usavam carros de viagem.
O mais indicado, para quem tinha pressa, era o essedum, com duas rodas, mas de estrutura maciça, talvez derivado dos carros de guerra dos celtas.
O cisium, sempre com duas rodas, mas um pouco mais leve e adequado às corridas, sendo um pouco símile ao moderno calesse, era usado para trajetos breves em estradas boas.
Também o carpentum era um carro com duas rodas, mas pela sua elegância era usado, como a léctica, quase exclusivamente na cidade ou nos trajetos breves até as grandes vilas patrícias situadas nos arredores.
Além disso, era privilégio das matronas e das jovens da família imperial usá-lo na cidade, assim como a liteira, levada sobre os ombros dos escravos que vestiam librés de aspecto militar.
A literia era também usada pelos homens ricos, senadores e pelos grandes dignatários da República e do Império.
Pro resto da população, dentro da cidade, era proibida a circulação dos carros nas horas diurnas para preservar a incolumidade dos cidadãos e para a defesa da tranquilidade pública.
Havia também os carros com quatro rodas, adaptados para transportar a bagagem dos viajantes:
Raeda
Foi criado, pelo que parece, de um carro suntuoso de parada e muito difundido especialmente durantes os últimos tempos do império.
Pilentum
Era puxado por pares barulhentos de mulas.
Carruca
Dentre todos os carros, era o mais rápido, luxuoso e cômodo meio de locomoção porque permitia aos viajantes de deitar e dormir durante as viagens longas.
A característica mais chamativa desse carro eram os muitos ornamentos, as toalhas e os dourados que o caracterizavam como um carro de luxo da antiguidade.
Arcera
Era uma mistura de carro com liteira que, por essa sua característica e pela cobertura à prova d’água e de vento, era o ideal para os velhos patrícios já com uma saúde delicada e para os doentes facultosos.
Plaustrum
Era o típico carro para o transporte de mercadorias não muito pesadas, especialmente para os produtos que, cotidianamente, eram levados dos campos vizinhos para abastecer a população das cidades.
Era bruto e robusto, com as rodas formadas por discos maciços de madeira, e era puxado por pares de bois cândidos ou asnos.
Serracum
Para as cargas mais pesadas, como os barris de vinho da Apúlia, os blocos de travertino ou as grandes pirâmides de sacos de trigo, servia bem o serracum, com quatro rodas baixas e robustas.
Hospedarias e tabernas
Nas grandes redes de estradas romanas, não havia um sistema albergueiro para uso privado do cidadão que estivesse viajando.
Assim, ao longo dos trajetos, o desprazer da viagem era enorme.
As cauponae, que eram mais tabernas e locandas do que albergues, tinham um aspecto esquálido: ambientes muito fumosos e fedorentos, com pequenos cômodos nada arrumados, sujos e inseguros, provavelmente infestados por insetos.
As roupas de viagem dos antigos romanos
Os antigos romanos tinham necessidade de roupas mais confortáveis para se mover, tanto a pé como a cavalo. Uma túnica curta até os joelhos permitia ampla liberdade de movimento aos viajantes romanos.
Para se proteger da chuva e do frio, bastava um casaco de lã com capuz. Na bagagem, levavam:
- um bisaco de couro ou de tecido;
- um saco de dormir ou, para as viagens longas e transferências de longa duração, alguma caixa ou baú de madeira;
- cada viajante tinha também uma bolsa, o marsupium, que, preso na cintura, guardava, além do dinheiro, as coisas mais preciosas e pessoais;
- Uma arma ou pelo menos um bastão para se apoiar nas subidas e para afastar os cães vira-latas e os mal-intencionados, o que completava o equipamento simples dos viajantes da Antiga Roma.
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*Referência bibliográfica: Livro “Tutto su Roma Antica”. Texto de Cesare Vasoli. Ed. Bemporad Marzocco, Florença, 1963 (tradução livre minha).
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