Visitei os Jardins Vaticanos sob o pontificado de Papa Bento XVI e quando ainda não existia a opção de visitá-los com o pequeno ônibus aberto (open bus).
Naquela época, eles eram mais conhecidos como Jardins Secretos do Vaticano (a explicação de “secretos” está mais abaixo) e o passeio por eles não era tão popular como é hoje com as suas duas opções de visita: tour guiado a pé ou com o open bus.
Antes de programar a sua visita, descubra um pouco mais sobre esses jardins secretos no menor estado do mundo.
Como visitar os Jardins do Vaticano: um pouco de história
Quase 22 hectares de jardins
A metade dos 44 hectares do território sobre o qual se estende a Cidade do Vaticano é ocupada por jardins, uma das maravilhas da arte, história e cultura, e inserida em um oásis cheio de raridades botânicas provenientes de todo o mundo.
Antigamente, essa área era completamente separada do centro urbano de Roma e compreendia algumas planícies que eram invadidas por charcos que se formavam durante as enchentes do Rio Tibre.
A primeira obra de saneamento foi realizada por Agripina (14 a.C. – 33 d.C.), que mandou construir uma vila, e por seu filho, o Imperador Calígula, que ali ordenou edificar um circo que posteriormente foi ampliado e enriquecido por Nero (54 – 68 d.C.), sendo usado, entre os anos entre 64 e 67 d.C., como lugar de martírio para vários cristãos, dentre eles o próprio Apóstolo Pedro.
A área depois mudou decisivamente de aspecto quando o Imperador Constantino, após ter concedido a liberdade de culto aos cristãos, mandou demolir a colina para ali construir a Basílica de São Pedro.
A residência dos papas, então, encontrava-se na cidade, perto da Basílica de Salvador em Latrão (del Salvatore al Laterano).
Muralha leonina
As primeiras construções importantes foram encomendadas por Papa Leão I e por Simmaco (498 – 514), o primeiro papa que, por um tempo, estabeleceu-se no Vaticano.
Porém, depois das incursões dos sarracenos, em 846, que devastaram a cidade e saquearam as Basílicas de São Paulo e de São Pedro, Papa Leão IV decidiu salvaguardar o Vaticano de outros episódios do gênero com a construção de um anel murário constituído por torres de avistamento, as quais foram chamadas de “mura leonine” (muros leoninos).
Dentro daqueles muros (cujos restos são ainda visíveis nos Jardins Vaticanos) já haviam hortas e terrenos cultivados com vinhas e frutas, enquanto no seu exterior estendia-se uma área com prados e bosques que se tornaram o primeiro núcleo dos Jardins Vaticanos.
Niccolò III, (1277 – 1280) foi o primeiro papa a fixar residência no Vaticano: ele não só restaurou o palácio papal, como também aumentou notavelmente o anel murário leonino até que ele chegasse ao Monte de Santo Egídio, dando, assim, início à história dos Jardins Vaticanos.
O pomar
Ao lado do “pomerium” (pomar, do qual se há notícias desde o pontificado de Inocêncio IV, 1243 – 1254), foi organizado um verdadeiro e próprio jardim “viridarium”, no qual existiam um prado, uma fontana e várias árvores de haste alto.
Nesse jardim, o archiatro de Niccolò V, Simone da Gênova, deu início à cultivação de plantas medicinais segundo a tradição em uso nos mosteiros beneditinos e aprofundou os estudos científicos que anteciparam a constituição de cátedras de botânica nas universidades italianas.
No período em que foi chamado de “cattività avignonese”, o qual durou cerca de setenta anos, os jardins foram em parte abandonados e somente com a volta dos papas a Roma, em 1378, e com a fixação da residência no palácio pontifício ao lado de São Pedro, é que se procedeu ao seu restauro e a uma nova organização.
Eles não eram somente um lugar de representação para as cerimônias pontifícias, mas também passaram a ser usados pelos pontífices em momentos de descanso e de caminhadas.
O belveder
Dedicaram-se aos jardins Niccolò V, Pio II e o humanista Enea Silvio Piccolomini, mas uma renovação radical aconteceu no fim da Idade Média durante o pontificado do genovês Inocêncio VIII, Giovanni Battista Cibo (1484 – 1492), o qual mandou construir o palacete conhecido como “o Belveder”, na altura do Monte Santo Egídio, circundado por arbustos e laranjeiras e com uma fontana para que os papas ali permanecessem durante o verão.
Foi Júlio II – o savonês Giuliano della Rovere (1503-1513) – papa que impulsionou as artes ao chamar Michelangelo para afrescar a volta da Capela Sistina e Rafael Sanzio, as Estâncias – quem entregou a Bramante o projeto de organização da área que deveria ligar o palácio ao “pátio do Belveder”, assumindo um aspecto cenográfico em modo que fosse usada para espetáculos teatrais, festas e torneios que ali passaram a acontecer a a partir do pontificado de Leão X (1513 – 1521), o Giovanni de’ Medici.
Por que jardins secretos?
Os ampliamentos e as modificações prosseguiram depois com os trabalhos encomendadas por Clemente VII, o florentino Giulio de’ Medici (1523 – 1534), sobrinho de Lourenço, o Magnifico, e de seu sucessor Paulo III, Alessandro Farnese (1534 – 1549), o qual mandou aplanar o terreno para recavar um novo jardim com pequenas ruas cobertas dispostas em forma de cruz e fechadas por um muro alto: daí o nome de “jardim secreto”.
Para desfrutar de uma residência alternativa ao Palácio Pontifício onde poder meditar e descansar, Paulo IV (1555 – 1559) mandou construir um pequeno palácio imerso no verde do bosque que foi completado durante o pontificado de seu sucessor, Pio IV, e chamado de “Villa Pia” ou “Casinha de Pio IV”, hoje sede da Pontifícia Academia das Ciências, considerada a joia dos Jardins Vaticanos.
O Jardim do Simples
Como foi previsto no projeto inicial, em frente à vila foi realizado um jardim com ruazinhas em forma de leque e arbustos geométricos decorados com sebes de buxo que, com Pio V, virou “O Jardim dos Simples”, isto é, com plantas medicinais cujo estudo já tinha sido iniciado no Vaticano desde o século XIII.
A cultivação e o estudo científico das plantas e das flores fizeram, sim, que o “Jardim dos Simples” se tornasse sede de pesquisas e experimentos da cátedra de botânica, instituída na universidade romana La Sapienza, até que não tivesse à sua disposição o Horto Botânico que, em 1660, Alessandro VI mandou realizar nas encostas do Gianicolo e virou um dos maiores da Itália.
Os Jardins do Vaticano e sua estrutura
A partir do final do século XVI até hoje, a estrutura dos Jardins Vaticanos não mudou muito quando os papas se estabeleceram no Palácio do Quirinal e eles foram substituídos pelos grandes jardins do próprio Quirinal. Para as estadias durante o verão, os papas preferiam ir para Castel Gandolfo, no palácio que Urbano VIII, Maffeo Barberini (1623 – 1664), mandou construir sobre as ruínas do Castelo Savelli.
Nos séculos posteriores, a única obra grandiosa realizada por Papa Paulo V, Camillo Borghese (1605 – 1621), foi a revitalização do antigo aqueduto de Trajano, o qual levou para Roma a água do Lago de Bracciano, Água Paula, por meio da qual foi possível realizar algumas fontanas nos jardins, dentre as quais a chamada “do “Scoglio” ou “da Áquila” pelo rapace que domina o imponente rochedo e a espetacular “da Galera”, que toma o nome do grande vaso de metal que joga jatos d´água.
Gruta de Lourdes
Em 1870, quando teve fim o poder temporal dos papas e o Quirinal virou o palácio dos Saboia, Leão XIII, Gioacchino Pecci (1878 – 1903), voltou a morar no Vaticano e dedicou-se aos jardins aos quais ia frequentemente, seguindo com paixão o trabalho dos jardineiros: neles mandou organizar uma vinha e alguns estábulos onde algumas ovelhas pastavam, além de terem sido criados também bodes, gamos, gazelas e outros animais doados ao papa pelo seu jubileu sacerdotal.
Um outro tesouro que enriqueceu o percurso dos jardins foi uma bela reprodução da Gruta de Lourdes, meta de devoção dos papas, enquanto o genovês Benedetto XV, Giacomo Della Chiesa (1914 – 1922), ali mandou erigir um “Pequeno templo de Nossa Senhora da Guarda”, protetora de Gênova e muito venerada na Ligúria.
Ornamentação dos jardins
A soberania territorial no Estado da igreja, reconhecida nos Pactos Lateranenses em 1929, e a consequente indenização pelos territórios ocupados pela Itália em 1870, permitiram aos papas a construção dos edifícios públicos necessários às exigências do novo estado juntamente a uma renovação e ornamentação dos Jardins do Vaticano.
O primeiro a se dedicar à renovação dos jardins foi o Papa Pio XI, Achille Ratti (1922-1939), e a sua obra de saneamento e irrigação permitiu transformá-los no oásis de verde que se podemos admirar hoje. Outras obras de manutenção e de restauração foram realizadas durante os pontificados de Roncalli e Montini, os quais mandaram construir também o novo edifício dos Museus Vaticanos.
João Paulo II
João Paulo II, na sua doutrina baseada na valorização dos dons espirituais e das belezas da natureza que Deus deu ao homem, destacou – inspirando-se na Sagrada Escritura – a necessidade de o homem conservar, com profunda consciência, a riqueza inestimável dos tesouros recebidos, de forma a viver, com sabedoria ecológica, em harmonia com o ambiente que o circunda e reconhecendo em Deus onipotente, segundo a profissão de fé dos cristãos, “o criador do céu e da terra”.
Percorrer as pequenas vias e trilhas que ligam os diferentes tipos de jardins à italiana, à inglesa, à francesa, parar nas vilas, verdadeiros tesouros da arquitetura, encantar-se com as fontanas e seus jatos d’água e cascatas, fazem com que atravessemos séculos de história e conheçamos o trabalho artístico e cultural que permitiu a realização desse paraíso terrestre que aglomera tantas maravilhas em um cenário de vegetação espetacular, assim predisposta até parecer espontânea.
Visitar os Jardins do Vaticano + ingresso dos Museus Vaticanos e Capela Sistina
É possível visitar os jardins a pé, com uma guia do próprio Vaticano, ou a bordo de um ônibus (open bus) ecológico e panorâmico com auxílio de um audioguia disponível em português.
ingressos no site oficial dos Museus Vaticanos.
* Referência bibliográfica: L’incanto dei Giardini Vaticani, de Maria Luigia Ronco Valenti (tradução livre minha para este post).
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4 comments
Olá!
Gostei do seu blog. Estou em viagem em Roma e gostaria muito de conhecer os jardins do Vaticano. Já fui na Basilica de São Pedro e subi a cúpula. Fui nos museus Vaticanos. Agora quero ir nos jardins. Como faço?
Olá, Valeria,
No post acima, estão as informações sobre como visitar os Jardis Vaticanos: reservando diretamente no site dos Museus Vaticanos ou com meu parceiro TicketBar: http://viagemnaitalia.rgi.ticketbar.eu/pt/ticketbar-rome/jardins-do-vaticano-no-mini-onibus-aberto/
Desejo-lhe um ótimo passeio!
Maria