Na nossa sociedade ocidental, estamos acostumados a três refeições principais diárias – café-da-manhã, almoço e jantar – e a pergunta que não quer calar é: de onde vem esse nosso hábito de alimentação?
Fui buscar a resposta em um texto científico*, o qual nos mostra como os antigos romanos se alimentavam no Império Romano e, consequentemente, nos deixaram a herança alimentar do café da manhã, almoço e jantar cotidianos.
🍲 Alimentação na Roma Antiga: Café-da-manhã, almoço e jantar
Seguindo uma dieta habitual, três refeições principais por dia mediam a relação de um antigo romano com a comida: o café-da-manhã, no início do dia (ientaculum), o alimento ligeiro do meio-dia (prantium) e o jantar, à noite (cena).
Assim como na antiga tradição grega, era o jantar a verdadeira refeição do dia, o momento no qual o romano se reunia com sua família e amigos no fim de um dia de trabalho.
A consistência de cada alimento variava segundo o período histórico, o status da família e o lugar onde a pessoa morava: em um centro urbano ou no campo.
Se um romano do período arcaico se satisfazia com uma refeição simples à noite (vesperna), a partir do século II foi necessária a promulgação de leis suntuárias apropriadas para limitar a despesa per capita em ocasiões de jantares sociais.
Café-da-manhã
O jentaculum acontecia entre a terça e a quarta hora, ou seja, às oito e às nove horas da manhã, e continha desde pão embebido no vinho, um costume grego, até restos de comida da noite anterior, azeitonas, ovos, queijos, etc.
O leite era reservado para as crianças (de ovelha ou de cabra).
O leite de vaca nem sempre era comum e o leite de jumenta era mais usado para tratamentos estéticos, acompanhado de brioches frescos, salgados ou adocicados com mel, às vezes comprados a caminho da escola no pistur dulciarius (Marz. Apoph. XIV, 223), um tipo de confeiteiro daquela época.
Almoço
Entre a sexta e a sétima hora, isto é, por volta do meio-dia, comia-se o prantium: geralmente um lanche feito na rua durante a pausa no trabalho, levado de casa ou, para os mais sortudos com dinheiro no bolso, comprado nos vendedores ambulantes e nos locais públicos.
Era encontrado facilmente perto de lugares bastante frequentados durante o dia, como o fórum e as termas, onde havia um burburinho de lanchonetes (thermopolia ou popinae) e nem era preciso procurar muito até encontrar um, pois comerciantes espertos mandavam seus empregados para as ruas do centro e para dentro dos estabelecimentos a fim de vender iguarias frias ou quentes conforme a estação.
Se a refeição era feita em casa, sempre sobravam restos do dia anterior, os quais eram comidos em pé como pratos frios e rápidos.
Jantar
A hora do jantar romano começou a mudar lentamente, passando da tarde para a noite com o refinamento dos costumes e a introdução da iluminação doméstica: podia ter um único prato se a pessoa comia sozinha (domicenium) ou se transformar em um motivo de reunião com os amigos (convivium).
Em tal caso, tinha uma ordem pontual de sucessão de pratos, às vezes invertida para surpreender os convidados, e um número não inferior a três (fercula), podendo chegar a seis pratos como no famoso jantar de Trimálquio.
Os banquetes não eram exclusividade dos ricos: quando a situação econômica do dono da casa não era muito boa, os próprios convidados levavam alguma coisa para contribuir ao jantar.
A reunião (convivium) começava com entradas fartas para estimular o apetite, chamadas de gustatio ou promulsis, e vinho misturado com mel (mulsum), o qual era acompanhado de degustação de ovos, frutos do mar e verduras.
A seguir, eram servidos pratos com carne, peixe e iguarias cobiçadas (mensa prima ou caput cenae).
A conclusão de tanta comida requintada era feita com doces e, normalmente, com frutas frescas e secas.
Às vezes, eram servidos novamente alimentos salgados (linguiças e focacce de queijo, mas também moluscos), os quais constituíam a “segunda mesa” (seconda mensa), expressão derivada do antigo costume grego e depois esquecida pelos romanos, que era trocar a mesa no fim de cada refeição.
Foi próprio o costume de comer ovos na entrada e frutas no fim do jantar que deu origem ao ditado «ab ovo usque ad mala»: «do ovo às maçãs».
Vinho
Ao vinho, servido e bebido com moderação durante a primeira parte da refeição para não interferir na respeitosa homenagem aos Lares, entre a primeira e a segunda rodada de pratos, era reservada a commissatio, uma libação à qual uma pessoa podia ser convidada separadamente, como em um momento pós-jantar.
Mais uma vez, tira-gostos ou comidas mais consistentes eram servidos aos convidados, regados a conversações mais ou menos filosóficas, conforme a quantidade de vezes que os jovens barman tivessem enchido as taças.
* Tradução minha do original em italiano de Stefania Celentino – Ministério Italiano da Cultura e do Turismo.
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