A difícil convivência entre hebreus e imperadores romanos, de Augusto a Vespasiano, provocou acontecimentos que marcariam profundamente tanto a história do povo hebreu, quanto a do império ocidental que o subjugou.
Ainda em 63 a.C., quando Roma ainda era uma república, a tensão destinada a provocar a revolta judaica de 70 d.C. já havia começado, quando Jerusalém foi tomada e o seu templo profanado por parte de Pompeu que, destruído o Estado Selêucida, ordenou o Estado Judaico no sistema de territórios vassalos de Roma.
A situação continuou tensa pela intolerância dos romanos na luta entre o sumo sacerdote João Hircano II e seu irmão Aristóbulo.
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A difícil convivência entre hebreus e imperadores romanos, de Augusto a Vespasiano
Quando Roma ainda não era um império
Em 47 a.C., por vontade de Júlio César, foi nomeado vice-rei da Judeia o indumeu Antípatro, feroz ministro de João Hircano II, contra o qual se desenvolveu o movimento nacionalista de resistência guiado pelo galileu Ezequias
No mesmo ano, Ezequias é massacrado por um corpo de expedição sob ordens de um dos filhos de Antípatro, Herodes.
O processo pela morte de Ezequias é obscurecido graças à intervenção de Sexto Júlio César.
Em 44 a.C., Júlio César é assassinado e, segundo Suetônio, os judeus velaram a sua pira durante várias noites seguidas, pois eram reconhecidos a César, que vencera Pompeu, o assaltante de Jerusalém.
Em 40 a.C., João Hircano II é deposto por Antígono, filho do falecido Aristóbulo, graças à ajuda dos partos. Herodes foge pra Roma.
Herodes, rei da Judeia graças aos romanos
Em 37 a.C., com a ajuda dos romanos, que o nomearam rei da Judeia, Herodes conquista o país. Antígono é assassinado.
Protegido por Marco Antônio e depois por Augusto, Herodes é colocado para chefiar um forte complexo incluindo, além da Judeia, a Samaria, os territórios do nordeste, as cidades costeiras, Gadara e Hippos.
A carreira de Herodes atravessa um dos acontecimentos determinantes da história romana, o conflito entre Marco Antônio e Otaviano.
Herodes apoiava Marco Antônio. Mas Cleópatra, a rainha ptolemaica do Egito e amante de Marco Antônio, fez intrigas para desacreditar Herodes perante o seu amado, na esperança de arrebatar a Palestina e reintegrá-la ao seu próprio reino.
Imperador Augusto
Portanto, quando Otaviano derrotou Marco Antônio e Cleópatra em Áccio (31 a.C.), e tornou-se o imperador Augusto, Herodes ficou numa posição que lhe permitiu conquistar a sua confiança, apesar de sua antiga aliança com o rival de Augusto, e conseguiu convencê-lo de sua utilidade em potencial.
O imperador Augusto permitiu que Herodes se tornasse o mais poderoso dos pequenos governantes do Leste.
Depois da morte de Herodes, em 4 a.C., o povo se revoltou, numa época em que Augusto ainda era imperador dos romanos e Públio Quintílio Varo governava a região.
Imperador Tibério
Quando faleceu o imperador Augusto, o império romano passou a ser governado por Tibério, o qual expulsou alguns hebreus de Roma, os Libertinos, enviando-os a Sardenha para contrastar o brigantaggio.
Diz-se, não por vias oficiais, que a motivação de tal decisão derivasse de uma fraude que um grupo de hebreus teria organizado em detrimento de Fúlvia, mulher do senador Saturnino, a qual lhes teria dado dinheiro para enviar a Jerusalém, mas que, todavia, não teriam nunca chegado ao destino final.
Dião Cássio, político romano, diferentemente do parecer de muitos e dos fatos apenas descritos, sustentava que a escolha de Tibério proviesse somente de uma série de tensões devidas às várias decisões que o hebraismo estava recolhendo, as quais teriam encontrado a válvula de escape naquele evento.
Tudo terminou quando Sejano, romano e amigo confidente de Tibério, tramou-lhe um complô escondido. O imperador então decretou que os hebreus fossem objeto de calúnia e os fez repatriar.
Pôncio Pilatos, procurador da Judeia
O imperador Tibério enviou Pôncio Pilatos para governar a Judeia como procurador, de 26 a 36 d.C.
A maioria desses procuradores era de incompetentes corruptos que agravaram as tensões entre a população judaica e a administração romana.
Uma noite, Pôncio Pilatos mandou introduzir em Jerusalém, envolvidos por uma coberta, retratos do imperador Tibério.
Posteriormente, Pôncio Pilatos mandou retirar as imagens de Jerusalém, impressionado com a determinação dos judeus em preferir a morte a adorar imagens.
A execução de Jesus, sob a procuradoria de Pôncio Pilatos, é apenas um dos muitos incidentes que refletiam a administração romana brutal da Judeia durante esse período.
Outra decisão de Pôncio Pilatos, a de colocar a águia imperial romana nos estandartes da legião, causou uma intranquilidade ainda maior.
Imperador Calígula
A situação piorou de novo com a chegada do imperador Calígula, sucessor de Tibério, em 37 d.C., que entrou logo em conflito com os hebreus.
O culto “a si mesmo” por ele praticado era claramente em contraposição com as tradições e as leis dos hebreus que condenavam a idolatria e se opuseram fortemente quando Calígula decidiu colocar uma sua estátua dentro da sinagoga de Alexandria.
Fílon de Alexandria, hebreu e mediador entre a cultura helênica e aquela hebraica, chegou a Roma, como escrito no seu “Legatio ad Caium”, para defender a causa dos hebreus de Alexandria contra a decisão do imperador.
Essa oposição agitou as tropas do império, guiadas por Petrônio (governador da Síria), até Acre, onde foram paradas, embora por pouco tempo, pela mediação de Agripa, rei da Judeia.
Em 40 d.C., Calígula manda que a sua estátua em ouro seja colocada e adorada no templo de Jerusalém. Ele fez pressão para atacar de novo a Judeia e haveria obtido sucesso na sua intenção se não tivesse morrido antes, em 41 d.C.
Com a morte de Calígula, e com a revocação da ordem de atacar o território da Judeia, evitou-se uma grande e subestimada guerra civil em todo o império romano.
Imperador Cláudio
O sucessor de Calígula foi o imperador Cláudio, que, ao contrário de seu antecessor, manteve boas relações com o povo judeu, considerando também as ligações que tinha com a família governante na Judeia e Samaria.
Ele também desiste dos propósitos de Calígula e confirma os privilégios da comunidade hebraica em Alexandria.
O imperador Cláudio nomeu Herodes Agripa, um neto de Herodes, o Grande, governador da parte norte do país e depois rei da Judeia (41 a 44 d.C.).
Segundo o texto de Suetônio, na obra “Vida de Cláudio”, o neo-imperador teria, apesar das promessas feitas, expulso de Roma os mais tumultuosos dos hebreus, que seriam os primeiros cristãos.
Os romanos, porém, confundiam a seita nascente com a dos judeus. Já Dião Cássio afirmava que o imperador Cláudio teria somente proibido as reuniões religiosas.
Imperador Nero
Em 54 d.C., morre Cláudio e Nero é proclamado imperador.
Em 64 d.C., o historiador hebreu Flávio Josefo vai a Roma com o objetivo de conseguir a liberação de alguns sacerdotes amigos, enviados à capital como prisioneiros por ordem do antigo procurador da Judeia, Félix.
Flávio Josefo é apresentado a Nero por um ator de origem hebreia, Alítiro, um protegido do imperador.
Tudo isso causou atritos na Judeia, cuja autonomia, obtida por concessão de Cláudio, após a morte de Agripa I, foi revocada e fez com que voltasse a ser uma província romana. As tensões eclodiram uma guerra, uma guerra causada pela política de dois romanos na Síria: Géssio Floro, antes, e Céstio Gallo, depois
Esse conflito tomou o nome de “guerra judaica”, vencida pelos hebreus em revolta. A derrota fez então que o exército do império fosse entregue à direção de Vespasiano, considerado uma carta vencedora pra batalha: um exército de sessenta mil homens.
Imperador Vespasiano
Com a morte de Nero, Roma teve três imperadores em um breve período de tempo: Galba, Otão e Vitélio. Este último foi sucedido por Vespasiano, em 69 d.C., que deixou a gestão do exército a seu filho Tito, o qual continuou o assédio contra os judeus e, em 70 d.C., destruiu o templo de Jerusalém (data hebraica: 9 de AV), espoliando-o e profanando-o.
Os romanos não devastaram a Judeia ou expulsaram os judeus de Jerusalém, porém, tomaram medidas bastante duras. Muitos judeus foram capturados, outros fugiram da região e um grande contingente deles empobrecera por causa do confisco de suas terras.
O território tornou-se oficialmente uma província romana. Não houve nenhuma expulsão em massa como acontecera em 587 a.C. e, na maior parte, quem sofreu foi a aristocracia. A vida diária continuou como antes.
Vespasiano foi repressivo com os hebreus: cancelou o envio de ofertas a Jerusalém substituindo-as com aquelas que deveriam ser feitas no templo de Júpiter Capitolino.
Nasceu assim o “fiscus Iudaicus”, uma taxa de dois dracmas por cabeça, exclusiva pros hebreus, a ser enviada ao Capitólio em vez que ao templo de Jerusalém.
Os responsáveis pela cobrança eram chamados de “Procuratores Ad Capitularia Iudaeorum”, os quais detinham um registro com os inscritos na comunidade hebraica.
Podiam ficar isentos do pagamento os hebreus que tivessem aceitado a conversão religiosa. A vitória de Tito foi cunhada nas moedas de Roma: uma mulher sentada sob uma palma, com a escrita “ “Iudaea Capta”, Judeia Conquistada.
Quinze anos depois do assédio de Jerusalém, Domiciano, irmão de Tito, fez um monumento para recordá-lo e comemorá-lo: o famoso Arco de Tito, no Fórum Romano, em Roma.
Contato de guia brasileira na Itália
*Referências bibliográficas:
- A Vida dos Doze Césares, de Suetônio.
- Guerra Judaica, di Flavio Giuseppe (tradução e adaptação minhas).
- Roma Antica, il difficile rapporto fra ebrei e imperatori (tradução e adaptação minhas).