Os compromissos durante a jornada eram naturalmente diferentes, segundo a classe social e o dia da semana.
É evidente que, nos feriados, bem numerosos no calendário, os romanos não faziam as mesmas coisas que faziam nos dias de trabalho.
De qualquer modo, feriado ou útil que fosse, para eles o dia começava sempre bem cedo, no primeiro cantar do galo. Seria um pecado para eles desperdiçar a luz do dia e, por isso, acordavam ao nascer do sol.
Como era o dia a dia dos antigos romanos?
Vestir-se era algo para ser feito logo. Dormiam com a túnica, sem lençol, enrolados em uma coberta.
Não deviam nem mesmo tomar banho de manhã: já haviam pensado na higiene do corpo na noite anterior, quando terminavam de trabalhar.
O café-da-manhã era bem frugal: pão, leite, fruta ou queijo. Os romanos, pelo que parece, tinham pressa para começar o dia.
O primeiro compromisso de um patrício romano, em um dia de trabalho, era o de receber os clientes, isto é, todos aqueles que desfrutavam da sua proteção.
Os clientes enchiam o átrio da casa do patrono depois de ter esperado por muito tempo, em frente à porta, bem antes que o próprio patrono acordasse.
O dia, para os clientes, começava antes do nascer do sol. Corriam para cumprimentar aquele do qual esperavam grandes coisas, submetiam-lhe suas aflições, suas dificuldades, e pediam-lhe conselhos e ajuda.
O patrono devia conceder, com grande liberalidade, um e outro.
Patronos e clientes
A auctoritas do patrono, isto é, o crédito do qual desfrutava na cidade, era à disposição dos clientes. Além disso, o costume requeria que cada grande personagem honrado por uma clientela doasse a esses pobres qualquer tipo de ajuda in natura, a famosa sportula.
es·pór·tu·la
(latim sportula, -ae, pequeno cesto, diminutivo de sporta, -ae, cesto)
nome femininoQuantia em dinheiro que se dá a alguém como recompensa, para além do pagamento do serviço prestado. = GORJETA, GRATIFICAÇÃO
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
Era necessário que o patrono mandasse seus servos encherem as pequenas cestas que, a cada manhã, os clientes levavam com si, cheias de víveres que serviriam para saciar a fome dos clientes e de suas famílias.
Mais tarde, o presente dado na parte da manhã foi substituído por ofertas em dinheiro.
Quando os clientes terminavam de cumprimentar o patrono e ter-lhe feito suas súplicas, todos se organizavam em um cortejo em direção ao fórum ou à cúria.
Fórum: o centro do burburinho na Antiga Roma
Se o patrício era um magistrado, durante a manhã e nas primeiras horas da tarde ele devia honrar os compromissos que seu cargo requeria: sentar-se no tribunal, um palco sobrelevado de onde regulava as questões que lhe eram submetidas ou dirigir-se a qualquer reunião do senado para participar das deliberações.
Mesmo se não exercitasse um cargo oficial, um patrício romano tinha sempre alguma coisa para resolver no fórum, como, por exemplo, assistir algum amigo ou qualquer cliente em tribunal, comparecer como testemunha ou como fiador em algum processo.
Os romanos gostavam bastante de argumentos e questões judiciais. Às vezes, os patronos sentavam como conselheiros privados ao lado de qualquer magistrado que lhes dava uma grande honra ao pedir seu parecer sobre alguma disputa delicada.
Havia também um outro tipo de compromisso, pelo menos em época imperial, que oferecia muitos pretextos de trabalho aos romanos ricos: a administração de capitais.
Os primórdios da nossa Bolsa de Valores
Procuravam vender ao preço mais alto, como é feito hoje nas Bolsas de Valores, os produtos de suas mansões e vigiavam os agentes das sociedades comerciais nas quais tinham interesse.
Esses negócios eram tratados, como aqueles públicos, no fórum, onde, parecido com um grandioso escritório-salão, toda a população romana participava de convenções e onde estavam os escritórios dos banqueiros.
A partir do II século a.C., no fórum foram edificadas várias basílicas, em amplos pórticos cobertos, onde era possível se proteger do sol e da chuva. Mas quase sempre os romanos preferiam estar a céu aberto.
Se havia tempo, por volta do meio-dia era costume fazer uma refeição rápida, o prandium, composto por pratos quentes: um alimento muito simples e frugal durante o qual não se tomava vinho.
Como contavam as horas do dia
Não havia relógios naquele tempo, naturalmente, mas somente uma meridiana no fórum que, dentre outras coisas, não sendo construída para a latitude de Roma, não era nem mesmo exata.
Somente em 164 a.C., os romanos puderam usufruir de um relógio solar regulado exatamente pela posição geográfica de Roma.
Quinze anos depois, ao lado da meridiana foi colocada uma ampulheta, um relógio d’água que dava a hora precisa com qualquer condição climática.
Às vezes, no verão, depois do prandium, os romanos faziam uma breve pausa durante as horas mais quentes. Depois, retomavam o trabalho por outras duas ou três horas e a parte do dia, dedicada aos compromissos, terminava muito antes do anoitecer.
Por volta das 16 h no inverno, 19 h ou 20 h no verão, iam jantar (cena), a verdadeira refeição importante de todo o dia.
O ritual das termas
Entre o fim do trabalho e o momento de ir jantar, havia as horas de repouso que os romanos geralmente transcorriam nas termas. Sob a república e nos primeiros tempos do império,as termas eram a pagamento.
Quem não tinha em casa as instalações apropriadas – luxo que somente os grandes ricos podiam se conceder – ia tomar banho em um estabelecimento administrado pela iniciativa privada. Esse costume vinha do Oriente e, na Grécia, onde era habitual tomar banho depois das atividades físicas, tornou-se bastante comum.
Era um tipo de “banho turco”, onde se entrava em um ambiente quentíssimo e seco. Os “pacientes” se submetiam a uma transpiração abundante e, depois de suar bastante, molhavam o corpo com água fresca para mergulhar num tanque de água quente após terem sido cuidadosamente raspados por um escravo dotado de estrígil:
estrígil.
pequeno raspador feito de metal recurvado, usado na Roma e Grécia Antigas para raspar a sujidade e o suor do corpo no banho”
Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa
O banho como momento de convívio
Geralmente o banho terminava com um mergulho numa piscina de água fria, onde dava até para nadar se as suas dimensões o consentissem, e isso foi possível somente durante o império.
Depois do banho, entrava em cena o massageador.
O banho era uma ocasião alegre para relaxar e era feito junto com outras pessoas. Os amigos podiam aproveitar essa ocasião para se encontrar e conversar.
Para nós, pode parecer estranho esses banhos coletivos, mas precisamos considerar que para os romanos a coisa era completamente indiferente. Naturalmente, havia os dias e as horas reservadas, em todas as termas, para as senhoras que, por outro lado, não tinham compromissos de negócios público ou privado.
Vídeo com a reconstrução das Termas de Diocleciano
O cotidiano das matronas
As mulheres levantavam cedo como os homens e começavam a regular os afazeres de casa. Aquelas livres de nascimento eram dispensadas, por tradição, de todos os trabalhos servis: não tinham outra ocupação que não fosse a de “fiar a lã”, considerado um trabalho nobre.
Tinham à sua disposição um pequeno exército de empregadas: crianças, anciãs e escravas liberadas que serviam como superintendentes e governantas.
Frequentemente as mulheres da nobreza tinham tanta confiança nessas governantas que até lhe entregavam a administração da casa.
A manhã era dedicada à beleza
As nobres preocupavam-se somente com sua beleza e isso era o único compromisso ao qual se dedicavam durante a manhã.
Para ajudá-las, serviam-se de algumas escravas especializadas, cada uma com uma tarefa bem precisa: alisar os cabelos ou encaracolá-los com o ferro quente, fazer penteados, colocar grampos para manter os cabelos arrumados, etc.
Depois começava a aplicação da maquiagem, que era também uma tarefa bem complicada.
Durante o dia, abandonavam-se ao prazer das visitas: era uma verdadeira moda. As matronas visitavam umas as outras ou se encontravam pelas ruas, precedidas pelas escravas ou transportadas em uma liteira.
Podiam discutir vários argumentos: política, literatura, às vezes até filosofia. Antigamente, em Roma, os costumes rígidos impunham que as matronas ficassem em casa tecendo e costurando as roupas para os homens da família.
Mas a tradição praticamente desapareceu pouco antes do fim da república.
Todavia, Augusto impôs sempre às mulheres de sua casa, especialmente à filha Júlia, de preparar com suas próprias mãos as roupas que deviam vestir.
Hora de ir às compras
As matronas, nas primeiras horas da tarde ou no fim da manhã, divertiam-se fazendo compras, sobretudo nas lojas dos vendedores de tecidos e de vestidos, mas iam pouquíssimo às lojas de gênero alimentar.
A compra de alimentos era uma preocupação das escravas ou dos homens que preferiam se encarregar disso, especialmente os mais simples, porque assim podiam controlar pessoalmente as despesas.
Essa era a jornada das pessoas de uma certa importância social. Roma, porém, compreendia também artesãos, comerciantes, pequenos empregados, que viviam de seus trabalhos. Essas categorias, naturalmente, frequentavam bem menos o fórum.
O dia a dia de artesãos, comerciantes, empregados, etc.
Passavam a maior parte de seu tempo nas lojas ou nos ateliês, embora não ficassem todo o dia ali. Quando terminavam de trabalhar, fechavam o comércio e iam às termas ou passeavam com os amigos.
O cotidano na Antiga Roma era para ser vivido em sociedade
A vida cotidiana, em Roma, era uma vida em sociedade: os homens não ficavam tão presos a um ofício que lhes tomassem todo o dia. Tinham também tempo livre para os amigos.
*Referência bibliográfica: Livro “Tutto su Roma Antica”. Texto de Pierre Grimal. Ed. Bemporad Marzocco, Florença, 1963 (tradução livre minha para este post).
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