Os “Evangelhos da Infância”, de Lucas e de Mateus, que descrevem os acontecimentos sobre o nascimento de Jesus, constituem o núcleo da representação da Natividade.
Os episódios principais são o nascimento pobre de Jesus, a adoração dos pastores, que representam a parte mais marginal do povo de Israel, e a visita dos Magos vindos do Oriente seguindo a estrela, símbolo dos pagãos que manifestam a sua fé no Menino Jesus.
Os cristãos dos primeiros séculos se identificaram com os Magos quando passaram a decorá-los, a partir do III século, nas paredes das catacumbas romanas e nos sarcófagos, ou, então, quando enriqueciam a cena da Natividade com elementos alegóricos, como o boi e o asno que, segundo a profecia de Isaías 1:3:
Até mesmo o boi conhece seu dono, e o jumento reconhece o cuidado de seu senhor, mas Israel não conhece seu Senhor; meu povo não reconhece meu cuidado por ele”.
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Índice
- a natividade a partir do iv século
- a natividade a partir do xiv século
- simbologia dos três reis magos
ÍNDICE alfabético das cidades com as obras de arte
A Natividade a partir do IV século
A partir do IV século, a Natividade tornou-se um dos temas mais frequentes representados na arte religiosa, como demonstram o precioso díptico em marfim e pedras preciosas do V século, conservado na Catedral de Milão, os mosaicos da Capela Palatina, em Palermo, o Batistério de Veneza e as Basílicas de Santa Maria Maior e de Santa Maria in Trastevere, em Roma.
Nestas obras, a cena se desenrola em uma gruta, usada para refúgio dos animais, com Maria deitada como uma puérpera, José concentrado num canto e os anjos que levam o anúncio aos pastores, enquanto ao longe, às vezes, estão os Magos.
O centro da composição é constituído pelo Menino Jesus, enrolado em faixas tão estreitas que se assemelham as de um morto, deposto num berço que, às vezes, parece um sarcófago a preanunciar simbolicamente a sua morte e a sua ressurreição.
Além disso, a representação é enriquecida com particulares tirados dos Evangelhos Apócrifos, como o banho do Menino Jesus, para sublinhar a realidade da encarnação do Verbo.
A Natividade a partir do XIV século
Com o influxo da espiritualidade franciscana, a partir do século XIV, a representação da Natividade mudou de esquema, colocando geralmente o Menino Jesus em primeiro plano, muitas vezes sobre a terra, para destacar a humanidade, objeto de devota e tenra contemplação por parte dos fiéis, representada por Maria, José, os pastores ou os Magos adorantes, os quais tornam-se os verdadeiros coadjuvantes da cena.
Pode ser interessante considerar alguns detalhes, geralmente pouco notados, mas que são ricos de significado. Por exemplo, as ruínas dos antigos edifícios, que se veem em muitas representações da Natividade, não são simples detalhes paisagísticos e menos ainda antecipações anacrônicas do gosto romântico.
Essas ruínas derivam de uma tradição, referida por Jacopo da Varazze (1228 ca. – 1298) na Legenda Áurea, a qual se refere à crença dos pagãos que o Templo da Paz, em Roma, teria desabado somente quando uma virgem tivesse dado à luz.
Essas ruínas assumem, portanto, um significado simbólico, indicando como a eternidade e a paz não repousem na força do homem, mas estejam nas mãos do “Príncipe da Paz” (Isaías 9:6):
Pois um menino nos nasceu, um filho nos foi dado. O governo estará sobre seus ombros, e ele será chamado de Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz.
A simbologia dos três Reis Magos
Outro exemplo: o número tradicional dos Magos depende dos três dons que eles levam – ouro, incenso e mirra -, que a liturgia da Epifania felizmente interpreta como a tríplice devoção em Jesus Rei, Deus e Homem.
A partir do século XIV, o aspecto dos Magos também começa a se diferenciar. Identificados com os três povos descendentes de Noé, tornam-se respectivamente os representantes das três raças humanas, dos três continentes conhecidos e das três idades do homem: o idoso Baltazar representa a Europa, o maduro Melquior, com o turbante, a Ásia, e o jovem Gaspar, de pele escura, a África.
O nascimento de Jesus e a Adoração dos Magos em 40 obras de arte italiana
Basílica de São Francisco de Assis: Natividade, cerca de 1313 (Giotto)
Musée du Petit Palais, Avignon: Natividade, cerca de 1455 (Giovanni Francesco da Rimini)
Pinacoteca Nacional de Bolonha: Adoração dos Magos, 1499-1500 (Aspertini Amico)
Igreja dei Santi Faustino e Giovita, Bréscia: Natividade de Jesus, entre 1561 e 1566 (Lattanzio Gambara)
Accademia Carrara, Bréscia: Natividade de Jesus, 1500-1510 (Bernardino Luini)
Oratório de “Santa Maria dei Bianchi”, Città delle Pieve: Adoração dos Magos, 1504 (Perugino)
Pinacoteca Nacional de Ferrara: Adoração dos Pastores, cerca de 1560-1565 (Sebastianino)
Museu Nacional de São Marcos, Florença: Natividade, cerca de 1450 (Beato Angelico)
Basílica da Santa Trindade, Florença: Adoração dos Pastores, 1485 (Ghirlandaio)
Galeria dos Ofícios, Florença: Natividade, 1380 (Simone dei Crocifissi)
Pinacoteca de Forlì: Natividade da Virgem no Templo, última década do XVI século (Gian Francesco Modigliani)
Courtauld Gallery, Londres: Natividade, 1521-1522 (Parmigianino)
National Gallery de Londres: Natividade, 1470-1475 (Piero della Francesca)
National Gallery de Londres: Natividade Mística, 1501 (Sandro Botticelli)
Museu Regional de Messina: Adoração dos Pastores, 1609 (Caravaggio)
Pinacoteca de Brera, Milão: Natividade com Santa Elizabeth e João Batista Menino, cerca de 1512 (Correggio)

Galerias Estensi, Modena: Natividade, 1513 (Garofalo)
Museu Nacional de Capodimonte, Nápoles: Adoração do Menino Jesus, final do séc. XV (Luca Signorelli)
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque: Adoração dos Pastores, 1450-1451 (Andrea Mantegna)
Complesso della Pilotta, Parma: Adoração com pastores, 1510-1520 (Garofalo)
Galeria Nacional da Úmbria, Perugia: Adoração do Menino Jesus, 1536 (Domenico Alfani)
Basílica de Santa Maria di Campagna, Piacenza: Adoração dos Magos, 1530-1532 (o Pordenone)
Igreja de São Silvestro, Pisa: Adoração dos Reis Magos, 1609-1611 (Aurelio Lomi)
Museu Cívico de Prato: Natividade entre São Jorge e São Vicente Ferrer, entre 1455-1466 (Filippo Lippi)
Basílica de Sant’Apollinare Nuovo, Ravenna: Adoração dos Magos, mosaico do VI séc. (anônimo)
Abadia de Santa Maria de Scolca, Rimini: Adoração dos Magos, 1547-48 (Giorgio Vasari)
Catacumbas de Priscila, Roma: Natividade, início do III séc.

Basílica de Santa Maria Maior, Roma: Natividade, entre 1270-1300 (Jacopo Torriti)
Igreja de São José dos Carpinteiros, Roma: Natividade, 1650 (Carlo Maratta)
Igreja de São Domingos, Siena: Adoração do Menino Jesus, cerca de 1490 (Francesco Giorgio Martini)
Igreja de Santa Maria Maior, Spello: Natividade, 1501 (Pinturicchio)
Igreja de São Jorge, Turim: Natividade de Jesus (escola lombardo-piemontês)
Lógia de Rafael, Vaticano: Adoração dos Magos, 1517-1519 (Rafael Sanzio)
Pinacoteca Vaticana: Santa Brígida da Suécia e a visão da Natividade, após 1372 (Niccolò di Tommaso)
Pinacoteca Vaticana: Natividade, cerca de 1492 (Ghirlandaio e ateliê)
Igreja de Santa Maria dei Carmini, Veneza: Adoração dos Pastores, 1509 (Cima da Conigliano)
Escola Grande de São Roque, Veneza: Adoração dos Pastores, 1578-1581 (Tintoretto)
Basílica dos Santos João e Paulo, Verona: Adoração dos Pastores, 1558 (Veronese)
National Gallery of Art, Washington: Adoração do Menino Jesus, 1523 (Lorenzo Lotto)
National Galley of Art, Washington: Adoração dos Pastores Allendale, cerca de 1500-1505 (Giorgione)
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*Fonte: Tradução livre e adaptação minhas do texto em italiano “La rappresentazione della Natività nell’arte“, de Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja e Presidente da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra.